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Viva a História / Invenções

Como nós fazíamos sem satélites?

Sem os satélites artificiais, a comunicação e a navegação eram bem diferentes

Letícia Yazbek Publicado em 09/03/2020, às 14h00 - Atualizado em 10/07/2022, às 10h00

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Imagem ilustrativa de um satélite - Pixabay
Imagem ilustrativa de um satélite - Pixabay

Assistir ao noticiário transmitido do outro lado do mundo. Chegar a qualquer lugar guiando-se por um aplicativo. Saber detalhes da previsão do tempo. Benesses do mundo moderno que eram pura ficção científica quando o primeiro satélite, Sputnik I, foi lançado em 1957 pela União Soviética.

Os satélites foram uma revolução para bem além da comunicação. Mas isso não quer dizer que, antes, o mundo não estivesse conectado. “O primeiro sistema de comunicação moderno a utilizar energia elétrica foi a rede de telégrafos, na primeira metade do século 19. Para isso, foram desenvolvidos longos cabos elétricos”, relembra Ricardo Kehrle Miranda, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB.

Em 1866, os cabos foram para baixo do oceano — o primeiro transatlântico para telégrafos conectava a Irlanda à ilha de Terra Nova, no noroeste do Oceano Atlântico, perto do Canadá. Antes do telégrafo, o remédio eram as cartas, depois os jornais importados por navio. As notícias vinham literalmente à vela ou a vapor e levavam semanas para atingir o outro lado dos oceanos.

O telégrafo foi importante até tempos recentes. O telefone surgiu no fim da década de 1870, mas permaneceu estritamente local por muito tempo. O primeiro serviço intercontinental, por rádio, ligou Inglaterra e EUA em 1927. Com isso, em seus primeiros anos, a TV era inferior ao rádio em alcance. “As Copas do Mundo antes de 1970 só eram acompanhadas ao vivo pelo rádio”, relembra Paul Jean Jeszensky, professor do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle da USP. Foi no nosso tri que o campeonato teve, pela primeira vez e via satélite, transmissão ao vivo.

Fora comunicações, algo central que os satélites resolveram — e isso bem recentemente — é a localização. O GPS soaria algo quase mágico para os antigos, que tinham de se virar com mapas e astrolábios. Astrolábios dão a latitude (sem a longitude). Mapas, por mais precisos que sejam, não dizem onde você exatamente está, mas indicam pontos de referência. Que não existem em alto-mar. Perder-se era parte da profissão naval. Só na Segunda Guerra surgiram sistemas de radiolocalização, mas esses dependiam da cobertura de estações receptoras em terra.

Uma vida sem satélites também era sinônimo de previsão do tempo baseada na observação do céu e análise apenas diária de temperatura, umidade e pressão. E de um cotidiano mais imprevisível, sem monitoramento de vulcões, do deslocamento de geleiras e dos males da ação humana sobre o planeta. Havia bem menos dados sobre desmatamento e poluição.

Na área de comunicações, satélites perderam espaço para os velhos cabos submarinos. Funcionando por fibra óptica, eles são a espinha dorsal da internet: resistentes, não estão sujeitos aos fenômenos que afetam o sinal via satélite. Os satélites, porém, atingem lugares aonde os cabos nunca chegaram. Transmitem TV, internet e telefone para áreas rurais e isoladas, onde antenas parabólicas são uma visão comum. Um insólito caso em que a tecnologia nova atende à periferia e a tradicional, ao centro.